terça-feira, 9 de junho de 2015

A música dos 35

Não percebi o tempo
Mas ouvi o trânsito lento,
As buzinas do congestionamento.

Não foi de sopetão,
Mas como invasão,
ouvi que nem tudo
Eu tinha razão.

Na verdade em quase nada.

Ouvi partidas e
Autopiedade nervosa,
E em meio a dias corridos
Tornei-me cuidadosa.

Não percebi o tempo
Mas estou a contendo,
Exceto quando ouço a água batendo
Em minha cabeça doendo.

Não sou mais a mesma,
E como que ninguém me avisa,
Que não cabe mais usar esta camisa?

Estranhei visitantes cabelos brancos
E as linhas de expressão a que vieram questionar,
Se ainda é tempo de usar all star.

De inocente a exigente
De perdida a amadurecida,
De 18 a 35 ouvi
Que minha vida está erguida.

Pensei em começo,
Ouvi aceitação,
Todo dia adormeço
Tendo uma missão.

Da mudança evidente
À alma insistente,
Que é preciso ser gente.

Gente que diz,
E que é aprendiz.

A criança que eu fui não me contou
que nasci para ser quem sou,
calçar meus próprios sapatos
e caminhar tão estupefato.
Um caminho tão grande,
Que não pretendo
Deixar vida na estante.

Ciente que o tempo
Continuará exigente,
Queria negociar,
Apenas 35 vezes mais,
Para ser suficiente.

Muito passa,
E eu, lenta
Continuo desatenta.

Porém,
se quase não vejo,
há um grande lampejo,
em forma de gritos
e apitos
quase gaguejo...

Pois ouço a música,
a minha vida,
tocando a sua música.