quarta-feira, 28 de abril de 2010

Cinco Grandes Lições

Ano de 2005. Passava a marca de 620 dias desempregada; 25 anos nas costas, testando a paciência elástica da minha mãe, afinal ainda era sustentada por ela. A situação não era nada confortável, em especial para mim, que tinha um milhão de planos na cabeça, todos eles em “stand by” por não estar podendo colocá-los em prática.
No dia em que a cabeça foi além do que eu podia ver, joguei algumas peças de roupa em duas mochilas e comprei uma passagem para Ribeirão Preto. Sim! Mais de 1500 Km de casa. Eu tinha uma passagem, R$ 120,00 que juntei daqui e dali, e um sonho: ser independente!
Era uma solitária segunda-feira de manhã, saí de casa com uma sensação de imprecisão, como se avançasse os limites do futuro, a brisa daquela manhã me envolvia, como se dissesse "acalme-se que tudo dará certo".
Contra a vontade dos meus pais, somente com o abraço da minha vó amada que me disse: "vá minha filha! se der errado, é só voltar". Se der errado? Puxa! Sabia que eu não havia lembrado de alguma coisa; E SE DER ERRADO? Com que cara voltarei para casa? A minha família com certeza me apontaria, afirmando que eu só trazia gastos (como de fato, só trazia mesmo). Sensação de medo. Isso me agoniava.
Embarquei em um ônibus, os chamados “pinga-pinga”, com previsão média de 22 horas de viagem. Ele percorreria todo norte do estado, passando pelos interiores de SC, região central de SP, até chegar ao meu destino: Ribeirão Preto.
Acomodei-me no último assento do ônibus e coloquei um boné. Guardei meus sanduíches de mortadela no bagageiro acima da minha cabeça e fui. Sabe-se lá o que o futuro haveria de me aguardar. A cada parada daquele ônibus mais incertezas percorriam minha mente. Como é ruim a sensação de medo, principalmente por não saber o chão em que pisaria. Eu tremia, como criança perdida em parque de diversões.
Num desses interiores de cidade pequena entrou uma moça, com um remo na mão, sentou em um banco próximo de onde eu estava. Ela era magrinha, porém malhada, semblante saudável. Usava uma blusa dessas de patrocinadores. Hum... acho que ela irá competir, pensava eu como quem não acha nada mais útil para pensar. Eu fitava a menina de cima a baixo, por um breve instante havia virado fã. Puxa! Ela está percorrendo os estados pra competir, que legal! Tão jovem e já batalhando pelo seu futuro! Que show, que coragem, que máximo!
Minha admiração durara cerca de 45 minutos, quando a menina vomitou pela primeira vez. E assim ela foi, de tempos em tempos, revezando entre o banheiro do ônibus e suas reclamações soltas no ar, na solidão do seu banco do ônibus.
Uma forte massa de auto-confiança bateu sobre mim naquele momento, afinal, também estava indo competir. Sim, eu estava! Lutar por uma vida que ainda não sabia muito bem qual seria, eu já era vencedora por ter tido a coragem de sair de casa. E mais um ponto ao meu favor: era capaz de viajar longas distâncias sem enjoar! Eu sorri. MINHA PRIMEIRA GRANDE LIÇÃO: Sair de casa é questão de tempo e inevitável em algum ponto de nossa vida!

Levei a tiracolo o livro do Pequeno Príncipe, minha maior inspiração. Cada parágrafo que lia, me comparava ao menino que saía sem rumo, pendurado na cauda do cometa, tirando lindas lições por onde passava. Será que vou conseguir?
Chorei muito nessa viagem, prometendo a mim mesma ser forte, afinal, queria provar que era capaz. Era mais que um sonho, uma obstinação! Uma transição tardia, muito embora necessária em minha vida. Mas quem disse que as pessoas estão sempre preparadas para as mudanças?
Estava quase na primeira metade da longa viagem quando peguei um dos meus sanduíches de mortadela e uma água daquelas de copinho que a empresa de ônibus oferece e lanchei. Por estar sentada no último banco, percebi que as pessoas me olhavam. Com o ônibus fechado, tarde da noite, o cheirinho do sanduíche de mortadela perfumava o ônibus tão cheio de gente sem paciência, onde a maior distração era chegar até próxima parada para comer e ir ao banheiro. Sei bem que causei fome naquela gente, tanto, que logo depois o aroma do ônibus misturava-se entre bolacha recheada e salgadinhos de queijo.
Ótimo! Mais uma vez meu peito estufou de auto confiança; Afinal, alguma coisa eu poderia causar às pessoas em volta, nem que fosse fome. E se conseguia isso, porque não cativar alguém para conseguir um emprego? MINHA SEGUNDA GRANDE LIÇÃO... Seria capaz de fazer o que eu quisesse na minha vida, dependeria somente de mim, pois sou resultado de minhas próprias escolhas!

O emprego... Cada vez que pensava nisso lembrava de minha mãe, de tudo o que ela fizera a vida inteira por mim, de sua desconfiança que quando disse que iria embora. Mulher que sempre me deu o maior exemplo de vida, de caráter, ela achava que eu não conseguiria. Cá entre nós, com toda razão. Pois, até então ela tinha uma filha folgada e despreocupada com a vida. Lembrava do olhar brilhante dela, com certeza magoada comigo, fazia meses que não a via, pois ela morava em Brasília na época. Também lembrava do tristonho olhar verde da minha vó, sempre tão consolador, escondido por detrás daqueles óculos.
Peguei no sono em meio aos meus pensamentos e quando acordei, muitos dos passageiros haviam descido, restando somente umas quinze pessoas para seguir viagem até Ribeirão Preto. Foi estranho, ver que o ônibus ficou vazio e em silêncio e eu nem ter percebido. Muitos pararam pelo caminho, outros seguiram destinos diferentes, acabei constatando que a vida é assim mesmo. Menos ainda, são as pessoas que realmente chegam ao destino final o qual se propuseram. MINHA TERCEIRA GRANDE LIÇÃO: o caminho é longo, muitas pessoas vão entrar e sair da minha vida. Ficará somente o que a gente fez de bom para elas, afinal, a gente atrai o que transmite!

Faltavam algumas horas para o final do trajeto (que duraria o total de 26 horas), quando virei uma garrafinha inteira de água no colo, com meu jeans era cinza claro, óbvio que parecia que havia feito xixi nas calças. Aquelas horas foram as mais longas da viagem, pois eu não ousei levantar dali para que não ficassem me cuidando. Fiquei encolhida, quando abri ao acaso o livro do Pequeno Príncipe, justamente naquela frase que diz assim: “Seu eu tivesse cinqüenta e três minutos para gastar, iria caminhando passo a passo, mãos no bolso, na direção de uma fonte..." MINHA QUARTA GRANDE LIÇÃO: o que as pessoas vão pensar das minhas atitudes não deve ser maior, nem empecilho para continuar minha jornada!

Enfim, eu cheguei! Quatro dias depois consegui um trabalho. E outros dias mais tarde viria a conseguir o emprego que realmente queria. Cada vez que me lembro do perrengue que passei, penso no olhar da minha mãe que pra me fazer forte sempre me deu bons exemplos e que a certeza de que não adianta sonhar sem realizar, senão a vida fica vazia. MINHA QUINTA GRANDE LIÇÃO: Por mais que eu saiba de tudo isso, eu aprenda a cada dia, com cada detalhe, parece que eu me sinto crua, como se tivesse tudo ainda por aprender. Será que um dia estarei satisfeita ou a gente é para o que nasce?
(Conto escrito em 2007)

Papo de Amiga


Chuva, vento e frio.
Outono na cidade e as duas ali, em uma esquina qualquer, molhadas olhando para o nada.
- Sabia que minhas pernas tremem se eu ficar na pontinha dos pés?
- Ah é? Repondi dando de ombros.
- Sim, é estranho, veja! (e, sentada sob a calçada molhada, posicionou os pés na pontinha e logo suas pernas tremiam involuntariamente).
A crise de riso me tirou do estado órbita que me encontrava.
- Por que mesmo que você não trouxe um casaco?
- Não sei.
- Por que mesmo que resolvi vir com você?
- Não sei.
- Será que eu engordei?
- Melhor a gente ir, eu molhei as meias.
....
Elas se entendem.

domingo, 25 de abril de 2010

Não Me Chame de Gorducha II (Final)

"Tudo na vida há um porquê"; "Os obstáculos são oportunidades"; "Quando fecha-se uma porta, abre-se uma janela"; "O que é pra ser seu ningúem tira"... blá, blá, blá...Quantas vezes ouvimos essas expressões de incansáveis pessoas que nos querem bem? Sim, somente eles para aturar-nos e aos nossos incontáveis problemas, os reais e os imaginários. O fato é que quando essas frases começam a ser ditas, é porque realmente não há mais nada a ser declarado, que seja o que for, é hora de decidir, mudar, partir para outra, em vez de passar o verão, esperando o inverno.

Hoje completo um ano, do que para mim, foi o maior desafio da minha vida. Mas não continuarei a historinha triste, tampouco postarei fotos do passado. Hoje aqui, abro espaço para risos e abraços, porque a sensação que tenho, é o que o céu é o limite. Há quem sonhe em ter um carro, há quem queira um apartamento, existem aqueles que sonham com uma faculdade; Eu, particularmente, queria um novo corpo para chamar de meu.

O objetivo que me impusera, era tão complexo que tudo haveria de mudar. Reconstruir uma filosofia de vida. Afinal, quando se chega ao fundo do poço, só existem duas opções: ou parte-se para a escalada em busca de um ponto de partida, ou deixa-se morrer pelo medo da tentativa.

Eu queria ter e ser, pois não me sentia! Sim... eu queria ser gente, ser amada, ser importante para alguém, queria ter amigos, ter auto-estima e resgatar os sonhos que deixara no modo de espera. Nessa busca incessante de ser, eu acabei me tornando. Engana-se quem pensa que a conquista vem sozinha. O esforço é conjunto, pois quando se abraça uma causa, o universo abraça junto de você, através de pessoas que o ajudam, por cumplicidade, amor e apoio.

Hoje, eu sou o que me tornei, mas só cheguei porque várias pessoas ousaram "ser" comigo. Como diz uma escritora, eu sou hoje, tudo o que gosto: Sou minha mãe, sou minha vó, sou minha família, sou Fábia, sou Luana, sou Alexandre e Rafael, sou Tai e Lu, sou todos os meus amigos. Sou café forte, sou barrinha de cereal, sou roupa justa, sou paçoquinha de amendoim, sou sorriso simples, sou pequeno príncipe, sou suco de laranja, sou viagens, sou halls de uva verde. Sou minha profissão, sou natureza, sou amor, sou tranquilidade, sou paciência, sou busca, sou carência, enfim...sou bem menos do que ainda posso ser. Estou feliz e realizada. Ainda há muito o que trilhar, mas sei que o que hoje chamo de vontade, é um ego dotado de poder!

Desafie suas possibilidades, jamais espalhe muros que lhe impeçam de ser feliz, queres alguma coisa? busque! simples assim. Somos o resultado das nossas escolhas. Para que tudo isso aconteça, é preciso luta, afinco, perseverança, força, persistência e muito amor. Amor a vida, amor às pessoas e principalmente amor próprio! E por favor, não venha dizer justo à mim, que um sonho não é possível!
Desculpe-me mas hoje estou feliz...eu venci, eu consegui!

Eis, que dou por encerrado este capítulo da minha vida, já abrindo uma nova página em branco, que por hora grita: Que venham novos desafios! E por favor, NÃO ME CHAME DE GORDUCHA!

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Sobre Luciane e outras coisas que me encantam

De tão sinestésica que sou acabo por perder muito dos meus sentidos. Por bem me conhecer, sei que o conceito de "primeira impressão" comigo não funciona. Sempre terei que ter uma segunda, terceira, ou quantas forem necessárias para me encantar ou desencantar, seja com coisas, pessoas, lugares ou o que quer que seja.
O fato é que, com Luciane não fora diferente. Vê-la de relance num lugar que eu não gostava, me fez somente observar. Me chamava atenção sua beleza exótica, embora ficasse me questionando o que tal lugar poderia ter de tão atrativo para ela, algo parecia não encaixar em meus pensamentos. O descobriria posteriormente em nossos encontros diários na estação.
Tudo nela me parece diferente. Seu brilho próprio é intenso e natural, ela sabe disso e usa-o com maestria.
Tem uma timidez que tenta disfarçar falando sem pausas nem tréguas. Contraditório? nem tanto. Luciane não é comum, o que torna meus finais de tarde também incomuns. Percebo através de suas palavras, sempre muito bem aplicadas, o quão inteligente, discreta e de nobre educação a qual fora criada. Traços fortes sob olhos marcantes e cílios bem delineados, desvendam uma sutil sensibilidade. Há doçura naquele olhar. Seja na parada ou na escada, ora rindo, conversando ou seja lá o que for, tudo nela é intenso.
Muito embora rotule-se imatura, há muito de mulher dentro de si. Há quem veja fadas. Há quem veja gnomos. Há quem veja quilos a mais. Luciane, em especial, têm talento para isso. Enxerga inconcebíveis quilos e defeitos inexistentes onde eu, por mais que olhe, não enxergo nada.
Acha suas pernas enormes, e pergunta se eu concordo. Não, eu não concordo. Juro que não. De enorme, ali, só a curiosidade em saber o que aconteceria se nos conhecêssemos além da estação ou das escadas.
O diferente me instiga, o incomum me chama atenção, o novo me atrai e Luciane? Bom, esses são apenas os primeiros adjetivos de uma personalidade encantadora que ainda tenho muito o que desvendar. Inutil querer descrever o que não tem definição.Quem sabe em uma destas estações, descobrimos que tudo é diferente porque tudo muda a cada segundo.
Enquanto isso, fico feliz que em minha história eu conheça instigante mulher, que diariamente me faz sentir dentro da crônica " A Dama da Lotação" de Nelson Rodrigues. Afinal, tenho uma predisposição a atrair a direção do meu olhar pelo que ainda não conheço. O "de sempre" é invisível, o "comum" é mais um, e a "mesma coisa" me entedia, e Luciane jamais fará parte deste universo de coisas triviais.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Mil e uma Desculpas

Chega um tempo, que nos conhecemos suficientemente para saber quem somos, o que queremos, a quem queremos e de que forma, e isso inclui tudo: família, amigos, profissão, amores, sexo, lazer e afins.
Mas como bons adultos, também temos discernimento de contar com um mínimo de bom senso que nossa educação permite, fazendo com que nem sempre falemos tudo o que se passa dentro de nós.
Ora para não machucar, ora por auto-defesa, a questão é que as desculpas são ótimos mecanismos para um escape de potenciais situações constrangedoras.
Quem nunca ouviu: "O problema sou eu e não você!". Em um bom entendimento da sub-linguagem, essa frase quer dizer categoricamente um pé na bunda, só que acompanhado de flores para amenizar o impacto.
"Eu sou complicada, não te mereço" ou " Estou num outro momento da minha vida". Existe maneira mais bonitinha do que essa para se falar que a pessoa definitivamente não te encanta?
Caso um dia você resolva fazer um convite, e apertar a tecla SAP daquelas respostas expressivas do tipo:  "Vou ver" ou "Agora não posso falar, te ligo depois" ou ainda "Verei na sequencia", certamente você levou um super "não" de forma educada.
As entrelinhas são ótimas companheiras para nossas famosas desculpas. Quem nunca recebeu uma ligação tarde da noite, atendeu e ouviu algo do tipo: "nossa, desculpe acho que liguei errado" ou "você sabe o telefone daquela tele-entrega?" Simples assim, ficou subentendido, quando não foi preciso dizer "liguei porque estava com saudades".
O ser humano tem suas limitações, há de se convir que não há muitas variações das famosas desculpas, o que nos facilita o entendimento quando aparecem. Ora usam disto conosco, ora nós usamos com alguém. O universo dos pretextos assim vai evoluindo.
Esfarrapada ou não, o fato é que as desculpas sempre estarão presentes em nossa vida. Conscientes ou nem tanto, elas fazem parte do nosso cotidiano, a fim de somar ao nosso catálogo de "boas respostas". Caso um dia você resolva ser incomum, diferente, do contra ou simplesmente não estiver a fim de inventar nenhum porém, experimente apenas dizer a verdade!

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Brincando de Faz de Conta

Faz de conta que entendo que contar estrelas cadentes é menos importante que fazer relatórios.
Faz de conta que aceito um passeio no shopping em vez de um dia no campo.
Faz de conta que consigo explicar que dia de chuva é tão lindo quanto dia de sol.
Faz de conta que eu aceito que tudo o que amo pode ser indefinível e não ter explicação.
Faz de conta que todas as pessoas resolveram ser simples e do bem.
Faz de conta que indiferença não incomoda ninguém.
Faz de conta que as pessoas sabem lidar com seus sentimentos.
Faz de conta que chocolate não faz feliz.
Faz de conta que as pessoas são gentis e educadas.
Faz de conta que mãe não faz falta.
Faz de conta que um abraço sincero não cura mau humor.
Faz de conta que todo mundo entende que enquanto as coisas não forem simples, jamais serão plenas.

E eu aqui... fazendo de conta que entendo a cabeça dos adultos.

Noutra Direção

"Agora chega! Deixe-me olhar noutra direção."
Era o que ela dizia, no alto daquele morro, contemplando a paisagem mais
bela que seus olhos já tinham visto. O horizonte nunca lhe parecera tão atraente. Ali era permitido sonhar.
Naquele lugar, tudo parecia simples, as situações permeavam seus pensamentos sob uma esfera plena de realizações. Não havia "falta de habilidade" para isso, sofrimento naquilo outro; Não era preciso fingir ser forte, usar simpatia para convencer, nem os neurônios para todo resto.
Mas o tempo unifica os insignificantes, sabe? Melhor descer desta montanha, levar o sonho como base e não como ponte, antes que fique para trás. Olhar noutra direção, pensando que não se sonha...se realiza!
Ser do bem, ter mau humor, ficar confusa, ter problemas, também é um jeito legítimo de se relacionar com o mundo. Inevitável, afinal faz parte do pacote "viver".
Mesmo que não se saiba como lidar em todas as situações, imagina-se que o horizonte não é um bom endereço para a vida, a certeza plena nunca chega e o país das maravilhas só foi aberto para Alice.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Meus Sentidos V (Tato)


Prazer! Meu nome é intensidade.
Percebo a sutil diferença que o toque faz.
Não sou de muitas palavras, mas sou de incontáveis abraços.
Acredito na sensibilidade, onde as atitudes são o espectro de você.
Toque, sinta, abrace. Seja imensa, intensa...surpreenda!
Saiba receber também, experimente a reciprocidade.

Sou simples, não tenho frescuras.
Mas é preciso saber lidar.
Se for pra tocar, toque o coração.
Toque sem sentido eu não sinto.
Uma dica? Me desafie.
Faça-te essencial.
Atreva-se a me fazer sentir,
Ou então não se aproxime.

Meus Sentidos IV (Olfato)


Cada um, há de ter um sentido que lhe é mais forte ou mais aparente.
Como o olfato em mim, é traço marcante em minha personalidade.
Sinto aroma em tudo: coisas, pessoas, lugares e momentos.
O cheiro me encanta e desencanta, aproxima e afasta.
Se porventura quero lembrar alguém, fecho os olhos, e logo estarei envolvida pelo seu perfume. Minha memória é associativa aos cheiros que já senti.
Escola de criança? tem cheiro de criança, não cheirinho de bebê, mas de crianças crescidinhas, misto de chiclete, chocolate, giz de cêra, joelho esfolado, folha recém passada no mimeógrafo, uniforme engomado.
Domingo? Tem cheiro de casa de avó, almoço de família, tios, primos, musiquinha do fantástico.
Esqueço sobrenomes, músicas e roupas, mas conheço o perfume de cada uma das pessoas próximas a mim. Cheiro é próprio, selvagem, completamente único.
Loucura? absurdo? Simplesmente sentido. Sou de natureza abstrata.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Meus Sentidos III (Paladar)


Tenho o gosto do que gosto.
Doces, amores, café forte.
Natureza, gentileza, pôr do sol.
Livros, carinhos, filmes.
Viagens, kanjis, tatuagens.

Gosto de saborear o verão,
Jantar um abraço gostoso,
De fotos faço um banquete.

Gosto do sabor do bem,
de provar uma novidade,
Degustar um sorriso sincero.

Meu paladar é eclético!
Me permito experimentar.
Se for azedo, ácido, amargo,
Faz parte...

Afinal, eu gosto do gosto que a vida me traz!

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Meus Sentidos II (Visão)


Observando algum ponto do universo, lá estão meus olhos!
Pequenos, atentos, sem muita expressão.
Provavelmente a alma procurou uma outra janela
a qual pudesse se manifestar.

Tudo o que vejo, geralmente não reparo.
Olho pessoas, mas não vejo cor, tribo ou condição social.
Não se aborreça se estes olhos não enxergarem seu novo corte de
cabelo.Provavelmente estarão ocupados tentando ver além de
onde alcançam.

Há quem diga que eles funcionam melhor fechados:
Quando estão sonhando ou simplesmente quando se recusam
a ver o que está diante de si.

Se quiseres fazer um teste, peça a estes olhos
para te encarar. Aconselho que não arrisques.
Um olhar pode dizer tudo, como também nada!

Meus Sentidos I (Audição)


Sou boa ouvinte. Ouço muito pouco!
Talvez apenas o que eu acredite que deva.
O que foge do universo que eu considero verdade,
simplesmente deixo de ouvir; Ou escuto,
buscando o caminho mais curto para eliminar
sem absorver.

Sou seletiva, chegando a ser distraída.
Não confunda com displicência,
pois enquanto posso estar deixando
de ouvir uma coisa, deve haver outra
ecoando dentro de mim...
A minha voz interior!

Prefiro mil vezes a energia que flui da simetria de um silêncio.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Olhar, Doce Lar


E ali estou, diante dos olhos mais expressivos que já vi!
Ele intimida e acolhe, desconcerta e conforta, sorri e esbraveja.
No mínimo instigante.
Sempre fico me perguntando, o que será que ele quis dizer?
Este olhar não é óbvio, é inteligente!
Manifesta-se nas entrelinhas.
Capaz de travar quinhentas batalhas em pequenos silêncios.
Assim, são as nuances do olhar de Luana.
Como quem quer confirmar os elogios que outrora recebe, comprou uma máquina fotográfica. Ela quer entender o próprio olhar. Fotografa, olha. Mostra, olha novamente.
Naquela noite, o terraço da Usina ficou pequeno para o olhar de Luana.
Queria fotografar a noite, imaginava as fotos sendo belos pôsteres desenhados, uma extensão mágica do seu olhar.
Feliz e saltitante, fotografava a escuridão e seus detalhes. Indo de um lado para o outro como se a noite fosse mudar de cor em breves instantes.
Me divertia a cena, que em breve viria acompanhada de desapontamento.
As fotos eram borrões escuros, pontos luminosos no breu. Ela simplesmente não entendia como o olhar dela captava aquele momento e a câmera parecia não corresponder.
Simples assim.
O olhar de Luana, de maneira muito pura, exprime sua conexão interior. Consegue com maestria exteriorizar todos bons sentimentos que ali habitam. Sem ruídos nem palavras, somente através do silêncio. Não existe explicação! O diálogo deste olhar nunca será reduzido à voz ou ícones, pois não há entraves, ele ecoa, voa longe.
Jamais uma máquina conseguiria captar a imagem com tanta magia, quanto a deste olhar. Nem mesmo eu, ou quem quer que seja, pois ele conecta o geral com o especial.
É próprio, mágico, irritante, livre, pessoal, inventado, lindo!
Não existe vida sem silêncio, assim como Luana sem olhar.

domingo, 11 de abril de 2010

Sem mais, Atenciosamente


Quisera que a vida fosse simplificada...
Imaginando como seria, caso pudesse controlá-la por botões...
Clico no "REW" e estaria naquele momento feliz que vivi, e, apertando o "PAUSE" revivo tudo novamente como mágica. Em questão de segundos, por curiosidade, aperto o "FF" e lá me vejo no futuro. Se for bom, fico por lá e se não for, hei de consertar... ah...seria um paraíso, não é mesmo? E assim, pudera zapear os canais da minha vida, como brincadeira de criança, voltar aos 2, 3 ou 4 anos, ou ainda, ver cenas de como estarei aos 40,50 ou 60.

Uma voz dentro de mim grita: - "Acorda Alice!" A vida não é um filme, você não é Marty Mcfly e muito menos precisa de botões. Que babacas emocionais seríamos se tudo ja soubéssemos? sim, a mágica de viver, está justamente no imenso aprendizado, onde a importância está em agregar experiência, estufar o peito, erguer a cabeça, cair... e retomar o processo inicial.

Hum... então, se não posso ter botões para ir e voltar no tempo, será que poderia resolver todos os meus problemas, como se fossem correspondências oficiais? Poderia solicitar mais amigos, mandar retirar a solidão da estante, despachar o que não me serve, extrair certidões de fidelidade, e principalmente, quando precisar dizer adeus, ser tão simples como um "Sem mais, Atenciosamente".

sábado, 10 de abril de 2010

E se eu ficar em casa?

O inverno não me parece encantador. Pode parecer confuso, quando a maioria pensa no glamour de uma estação onde o calor humano aproxima e envolve as pessoas. A mim lembra meus espirros e minhas febres. Talvez um pouco de fragilidade há nisso tudo, mas enfim, cada um com seus pontos fracos, não é mesmo?

Em um fim de semana que fico casa como quem resolve fugir da temperatura, acabei por descobrir um dos melhores destinos para viajar: o meu quarto!
Uma vida sempre agitada, onde é preciso concentração até para dormir, resolvi desacelerar nestes três dias. Em época onde há tantas coisas por resolver, sempre resta pouco tempo para sentir. Isso mesmo: sentir! Viver o ócio, perceber o descanso, conversar com silêncio e permitir o livre acesso aos sonhos.

Domenico De Masi me entenderia perfeitamente.
Em segundos, fui ao B612 atrás do Pequeno Príncipe e peguei um cometa emprestado. Viajei mundos, conversei com povos, fotografei lugares, fiz promessas que não lembro.
Montei no dragão de São Jorge, bati um papo com Amelie Poulan, perguntei os segredos de Aleijadinho e por fim sentei aos pés do Colosso de Rhodes para pensar...

E cheguei a conclusão que a menor parte dos meus dias são de tempo livre, o qual eu deveria concentrar minhas potencialidades, elevar-me para a criatividade e talvez descobrir novidades sobre mim, o que me parece impossível em dias cheios.

Toda fragilidade concomitante com as temperaturas de frio me mostra o quanto é importante desacelerar. Tirar um tempo onde manhã e tarde se confundam, simplesmente para dedicar a si mesmo.

Pergunte-me qual o endereço dos sonhos e eu te digo: Sou eu! É você! Cada um!
Experimente receber um presente de você mesmo: Permita-se sentir... sinta o ócio! use e abuse dele! E veja, como pode ser atraente, um dia dentro de sua própria casa.
(Cronica concorrendo concurso de Crônicas: Portfólio Sem Vergonha SP)

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Não me Chame de Gorducha I

No mês em que completa um ano do projeto mais difícil da minha vida. Uma série de historinhas...


25 de abril de 2009: "ESTOU DE REGIME!" Nada mais do contra do que pronunciar essa frase em pleno sábado de manhã, tudo bem, sempre fui incomum mesmo. Num subito de loucura que faria Bridget Jones morrer de inveja, resolvi me desfazer de tudo que não me servia.

E lá se foram roupas, fotos, cartas antigas. Sinceramente, não sei como conseguimos acumular tanto lixo no armário. Há quem diga que o guarda-roupa é uma espécie de reflexo da gente. Não sei quem disse isso, mas certamente existe um fundo de razão e pude comprovar.

Tal qual um armário cheio de entulho, assim eu me via. Muitas lembranças, choramingos, entraves, medos e kilos...eu disse kilos?? Era chegada a hora de eu me desfazer de mim! No auge dos 103 kilos, era preciso jogar fora 40 deles em massa e adquirir toneladas em crescimento humano.

Me estranha as pessoas que dizem que são o que são e não mudariam por nada. Acredito que não há limites para SER... Estar em constante mudança, faz parte do crescimento.

Tudo parecia indo bem, quando os malditos duendes começaram a fazer churrasco na minha frente, os pratos de macarrão pareciam discos voadores à minha volta e os frangos dançavam cancan todas as noites para eu dormir...

Eu parecia delirar, não era divertido como imaginei, mas algo me fazia continuar. Não me olhe, não me aponte e por favor... NÃO ME CHAME DE GORDUCHA!


(....fim 1ª parte...)

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Os Amores Platônicos e Eu

Ninguém escolhe viver um amor platônico!
Ele simplesmente acontece.
Ah...grande engano daqueles que pensam que somente acontece na adolescência, onde apaixona-se por professores.
Sim! Os adultos também passam por isso.
Quem nunca viveu uma experiência de um dia perceber-se suspirando por alguém que julgara intocável? O passatempo preferido de quem sente este tipo de amor é fantasiar, são verdadeiras novelas românticas elaboradas pelas formas mais incríveis da imaginação.
É...somos seres criativos!

Eu como qualquer mortal vivo um destes amores.
Talvez não platônico.
É aquela velha história: Fulana ama beltrana, que ama sicrana que não ama ninguém.
Passa o tempo e aquele amor está lá, mais vivo do que nunca, como se a vida tivesse duas estradas paralelas: A que ando normalmente e aquela outra, que busco nos momentos de solidão. A grande verdade é que só não se sente sozinho aquele que está apaixonado e tem certeza da reciprocidade.

Hei de discordar de quem pensa que esse tipo de amor é ausência de auto-estima, algo que nos últimos tempos tenho em excesso. Vejo como um tempero dos sonhos, onde não causa dor ou sofrimentos. É como se fosse um livro onde abro todas as noites e fecho ao amanhecer. E esta, é minha rotina desde aquele dia, quando tudo começou dentro de mim, bastou um olhar distraído para tornar meu coração inquieto desde então.

A vida vai seguindo seu fluxo natural e eu vivendo minhas histórias. Mas por ora, na falta de grandes paixões, eu me refugio em minha estrada paralela, onde vejo o olhar mais encantador e sinto um perfume tão indescritível quanto o sorriso em minha direção.

Decidir o limite deste amor? Temo que já não possa mais demarcá-lo por fronteiras. Com o receio que fosse para sempre platônico, como criança que faz arte, fui lá e ultrapassei a barreira do sonho, fazendo com que as estradas se cruzassem por alguns instantes, acabando por sentir o sabor do que antes eram apenas devaneios.

Ninguém escolhe viver um amor platônico! Mas eu, em especial, vivo um amor ascético. Contemplativo, unilateral e meu. Uma espécie de conto de fadas que não chegou a ser lapidado pela Walt Disney.

sábado, 3 de abril de 2010

És eternamente responsável por aquilo que cativas


Fábia era aquele tipo gostosona. Popular, inteligente, na moda, maquiagem e salto alto.
Fernanda era do tipo poucos amigos, desconfiada, tímida, quieta, quanto mais escondida melhor.
Trabalhavam juntas.

Fabia falava com todo mundo, Fernanda não se pronunciava.
O menos provável um dia aconteceu, tornaram-se melhores amigas.

Fabia mostrou o seu mundo para Fernanda: Levou para festa, tirou-a da parede e ofereceu cerveja em vez de água.
Fernanda mostrou o seu mundo para Fabia: Explicou como pensava, mostrou livros, filmes e abriu horizontes.

Fernanda já sabe o que Fabia quer quando toca o ramal: "Me diz o que eu faço?".
Fabia já sabe o que Fernanda vai falar quando toca o ramal: "Eu vou casar e ter filhos".

Fernanda acha Fábia a pessoa mais humana do mundo,
Fábia vive dizendo que Fernanda não tem defeitos.

Fábia sabe como reagir ao choro da Fernanda: "Eu odeio quem te fez isso".
Fernanda sabe como reagir ao choro da Fábia: "Deixa pra mim q vou lá consertar isso."

Fabia é capaz de ensinar como interromper a tristeza da Fernanda: "Deixe ela contar quinhentas vezes a mesma história".
Fernanda explica como se interrompe a tristeza de Fábia: "Leve numa loja para experimentar vestidos ou a uma festa, mas não toque no assunto".

Fabia sabe quando a Fernanda está estressada: "Ela não liga para dar bom dia".
Fernanda sabe quando Fábia está estressada: "Ela vai trabalhar descabelada".

São irmãs que guardam uma mãe em comum - a amizade.
Com essa convivência, elas deram para evoluir juntas.
Fabia parou de usar salto.
Fernanda comprou roupas novas.
Fabia está lendo livros espíritas.
Fernanda lê as crônicas de Martha Medeiros.

Elas protegem e cuidam das verdades uma da outra. Há segredos de Fábia que só a Fernanda sabe. Há segredos e Fernanda, que só a Fábia sabe.

Fácil identificar quando dois amigos se amam: No momento em que aprontam. Não se entregam, nunca se denunciam. Não importa a pressão. São leais no tropeço. Uma completa a história mais maluca da outra, deliciando-se no improviso, o sorriso de ambas detém o mistério da cumplicidade.

Há quem julgue, existe os que criticam, inventam e rotulam, enquanto as duas, são simplesmente felizes, por ter tido o privilégio de fazer possível uma amizade.

Se existe outras vidas, esse é o feliz reencontro de uma grande parceria, que começou como num conto do pequeno príncipe.

"Vós não sois absolutamente iguais à minha rosa, vós não sois nada ainda.Ninguém ainda vos cativou, nem cativastes a ninguém. Sois como era a minha raposa. Era uma raposa igual a cem mil outras. Mas eu fiz dela um amigo." (Pequeno Principe)

(um salve à Fabrício Carpinejar)