sábado, 31 de julho de 2010

Meus sentidos: Tato

Prazer! Meu nome é intensidade.
Percebo a sutil diferença que o toque faz.
Não sou de muitas palavras, mas de incontáveis abraços.
Acredito na sensibilidade, onde as atitudes são seu espectro.
Toque, sinta, abrace. Seja imensa, intensa...surpreenda!
Saiba receber também, experimente a reciprocidade.

Sou simples, não tenho frescuras.
Mas é preciso saber lidar.
Se for pra tocar, toque o coração.
Toque sem sentido eu não sinto.
Uma dica? Me desafie.
Faça-te essencial.
Atreva-se a me fazer sentir,
Ou então não se aproxime.

(Participando do concurso poemas no ônibus 2010)

domingo, 25 de julho de 2010

Uma artista e um saquinho de biscoitos

Aqueles olhos verdes brilhavam como nunca. Era década de 40.
Como quem dialogava com o espelho, suspirava pensado no que
estaria prestes a fazer. Iria casar! Sim, casamento!

Mas como assim, casar? ela era uma artista.
Se bem que, ser artista em uma época como aquela não era fácil.
Tempo em que lança-perfume era brincadeira de carnaval,
artista era marginal. "Tempos estranhos aqueles."

O glamour dos palcos enchia sua vida de alegria.
Sempre à frente do seu tempo, embora boa filha,
daquelas acostumadas com as lidas domésticas,
aproveitara as horas livres para dedicar-se à arte.

Mulher casa cedo, cuida da casa e dos filhos!
Ela não concordava, não dava bola para a sociedade
e seus esteriótipos, "gente de com mania de
crenças prévias".

Se um dia casar, que seja por amor... e assim o tempo
passou e no auge dos seus 24 anos encontrara.
Ele, balconista de lavanderia, fugia completamente dos
padrões que a tradicional família italiana considerava como
certo, ganhou aquele coração outrora dominado pela arte.

Nada em sua vida foi comum, ela é pura e simplesmente
intensidade. Com a família contra, assim mesmo ela casara!
Isso é vida! "Se for pra ser, que seja por amor!".

A história de amor durou até os seus 31 anos quando
ficaria viúva e agora, mãe de 4 filhos. "É hora da Luta"
Batalha, cria, luta, sonha, faz, batalha de novo...
a vida foi passando, o seu rosto enrugando,
mas os olhos verdes estavam lá...
Lindos, intactos e cheios de histórias para contar.

Essência de artista, alma do bem, "se puder ajudar ajude"
se não puder "faça algo mesmo assim".

Vieram os netos, e isto ela não ensina, ela mostra em atitudes,
porque "bondade e pureza aprende quem quer".

Hoje aos 76 anos, vejo-a do outro lado da mesa,
toda família em volta. Linda, esplêndida e os mesmos
olhos verdes doces da fotografia, como quem conta
com pureza a mágica de suas estórias.
Eu sei que isto é completamente subjetivo,
imponderável, que aquela jovem que se olhara no espelho,
tornara-se hoje quem é.
A vida não foi fácil, ainda hoje não é simples,
mas "que seja sempre amor, bondade e pureza"
Se um dia eu morrer, morro amando.

Olhei-me imediatamente no espelho.
Minha Avó é a base de tudo que sou
e a essência de tudo o que quero ser!



***Por que do saquinho de biscoitos?
No último dia dos avós, eu tive a idéia de mandar uma cesta de café da manhã,
como se esquecesse de quem era a Dona Leda, ela recebera a cesta e, tirando todos
os itens, guardou para si um saquinho de biscoitos e o restante distribuira um a um para sua família. Devo ter até hoje um mini potinho de doce de leite guardado pela emoção que me
causara a sua atitude.***




DIA 26 DE JULHO, DIA DOS AVÓS

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Aos amigos e amores


Sei que está atrasado, talvez propositalmente ou porque tenha escolhido um
programa o qual não sei mexer, o fato é que dias comerciais não me convencem
e dia do amigo é hoje, é agora, é qualquer dia que eu esteja a fim de
expressar o quanto importante é estar com você!

Sim, está amador, estranho e cheio de defeitos. Não aprendi a mexer no programa
novo... mas está aí, como um desenho bem esquisito feito por uma criança num papel
de pão e entregue a cada um de vocês com todo amor do mundo.



http://www.youtube.com/watch?v=ZeaOcAFPQK4

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Entrevista com um gato

Em meio aos meus devaneios, eis que no meu divã eu entrevisto um gato.
Sim, ele está atrasado! Mas sei que aparecerá somente na hora em que estiver vontade. E pacientemente eu aguardo...
Horas se passam, quando ao longe avisto aquele toque refinado de ser,
o inconfundível jeito de andar, delicadeza e elegância em forma de movimentos,
me diz que ele está chegando para ser a estrela da noite.

Minha pergunta é óbvia:
- Por que os gatos são tão discriminados?

E ele, com aquele olhar encantador, quase que displicente, começa seu discurso:
"Pertenço à minoria no mundo dos animais.
Sim sou independente! Gosto da individualidade, o que não me faz egoísta,
afinal, também sou companheiro e carinhoso.
Mas tenho meu tempo, minhas vontades e respeito isso!
Entenda como quiser Fernanda, mas chamo de autenticidade, não de indiferença.
Qualquer um pode ter meu amor, eu não sou inacessível.Mas por favor não me compare, não sou todos os bichos, sou único e gosto de ser diferente.
Me chamam de traiçoeiro, me pergunto se é por não balançar a minha cauda para qualquer um. Sinceramente? Acho a prática desnecessária, porque sou legal apenas com quem gosto, caso contrário, sou indiferente. Não sei ser forçado para agradar.
Meu instinto é ser amável, esta é minha natureza.
Se fosse humano, acho que seria cult!
Aprecio a energia do silêncio, sou seleto nas relações, escolho meus amores e descarto tudo que se faz desnecessário na minha vida.
Me julgam porque sei andar sem derrubar, brincar sem destruir e comer sem me fartar.
Não sou arrogante, mas por favor, não tenho dono! Que rótulo primitivo!
Quem inventou isso?
Coisa de humano...Ah, bobos.
Sou meu! Mas experimento a troca, eu também adoro dar amor.
Entenda meu jeito, respeite meus silêncios e aí sim, se apaixone.
Sinto que este excesso de carência e dependência das pessoas me faz acreditar
que na verdade SOMOS NÓS, OS ANIMAIS, QUE TEMOS SERES HUMANOS DE ESTIMAÇÃO!"

Ele calmamente levantou-se do divã, deu duas ou três lambidas na pata direita,
e saiu com a leveza de um lord, pronto para o seu sono de beleza.

E eu, estupefata e boquiaberta, não prinunciei uma palavra sequer.
Minha cabeça fervilhando só conseguia imaginar: E se gato fosse gente e se gente fosse gato?
Agora percebo, ele tem toda razão...
Se eu fosse gato, não me veria com a necessidade de balançar o rabinho só porque um humano pretensioso acabara de chegar.

Me curvo e tiro meu chapéu.
Gato é inteligente!