quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Definições I


Porque tudo há de ter uma explicação!
E se não tiver, crio meu próprio dicionário.



SOLIDÃO
Palavra sem texto
Trapiche sem barco
Punhal sem peito

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Dreads pra que te quero

E lá estava ela, sentada na escadaria da Faculdade.
Roupa social, sapatos lustrosos, gel impecável no cabelo curtíssimo e os livros.
Fico me perguntando se isso é jeito de frequentar uma faculdade de publicidade?
Bem, essa sou eu! Ou era. sei lá.
Sei que um dia sonhei em não ser vista como a nerd do grupo, ou a estudiosa. Queria ser diferente, experimentar um novo estilo, mesmo sabendo que aparência jamais iria se sobrepôr à essência.

Eu disse jamais? Pois me enganei.
Foi uma mudança como do Alaska para o Saara.
Embora nunca tivesse essa intenção, percebo que radicalizei.
O extremo me trouxe sucesso em desconstruir a imagem anterior, muito embora soubesse que por dentro lá estavam os mesmos valores. Mas as pessoas não sabiam disso, eis então que abri a porta para uma nova experiência.

Joguei fora os sapatos, comprei suspensórios e como se não bastasse...coloquei dreads. Conheci os rótulos e os pré-julgamentos, malícias e maldades, admiradores e curiosos. Caráter foi medido por cabelo, inteligência por aparência, responsabilidade por tipo de calçado. Se em alguns momentos eu achava o máximo algumas pessoas sequer imaginar o que havia por detrás do meu estilo, por outros, me entristecia ser abordada nas ruas por gente me oferecendo droga.
E assim, por um ano e dois meses experimentei as mais variadas sensações que uma aparência pode trazer e o aprendizado que ficou me nutre a cada dia. Me senti mais alegre, acredito que combinei comigo mesma.
Alguns momentos ficarão pra sempre, como o dia em que no ônibus, uma criança me perguntou: "Tia, seu cabelo é de minhoca?". Ou em uma conversa com um hippie sobre os cabelos:
- Te cobro baratinho a manutenção e ainda fumamos um.
e eu carinhosamente respondi: - E sem o back, custa quanto?
Ele ruborizou.
Eu adorava a sensação do avesso!

Éramos EU, meu cabelo, meu estilo, meu jeito, meus livros... eram tantas numa só, em coisas completamente diferentes uma da outra, que só consegui fazer sentido para poucas pessoas, provavelmente as mesmas que terão pra sempre a minha reciprocidade.
Mas como a vida é feita de ciclos e por vezes, é preciso curvar-se às interpretações vãs de pessoas razas, foi preciso despedir-me dos queridos dreads.
Pronta para reclamar minha insatisfação, em ter que me adequar aos padrões para atingir minhas metas, quando olhei-me no espelho. Sorri! Meu novo avatar revelou o que os dreads insistiam em tentar esconder: Cheguei aos 30 anos!

Sinto-me de aniversário.
Como se tudo recomeçasse a partir de hoje. Me sinto satisfeita, pois tive a oportunidade de descobrir que não é preciso exteriorizar nada, para SER o que quer que seja.

Minha fachada a partir de amanhã? Não sei. Sou instantânea.

Sinceramente? Me sinto benvinda!

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Um protesto

Sobre a censura do Livro de Monteiro lobato nas escolas públicas.

"Um país se faz com homens e livros", um dia falou Monteiro Lobato, que hoje, caso estivesse vivo, estaria morrendo de vergonha deste país.
Em pleno século XXI onde tudo pode, tudo acontece, um livro infantil é censurado.

Até onde entendo, o sentido da censura é controlar e impedir a liberdade de expressão, certo?
Logo penso: ou censura mudou de nome ou o Poder desconhece as frases "Contexto histórico" e "licença poética".

Há de se discutir prioridades. Não é possível, um país já com tantos problemas na educação se prestar à um reverso de valores como este.
Proibir o livro? certo.
Então sugiro que censurem também a falta de profissionais qualificados nas escolas.
Aproveitem e censurem também o livre acesso dos marginais às dependências e por falar nisso, o que me dizem das condições físicas destes locais onde era pra se praticar educação?

Censurem, por gentileza, a discriminação, a falta de merenda escolar;
Também, já que são capazes de proibirem um livro de chegar às salas de aula, então pelo menos dêem à escola o livre acesso à todos.

Já que há tempo para discutir a censura, então acredito deva haver para elaboração e aprovação de políticas públicas para a inclusão na escola, acessibilidade e diversidade.

Desculpe-me, sou do tempo em que educação era para todos, onde o grande compromisso era a formação de cidadãos, onde não era o suficiente ensinar e sim, ensinar a aprender, a ter espírito crítico.

Poucas pessoas lerão o meu protesto, visto que, a cada geração as pessoas lêem menos. E neste ritmo em que anda o país onde a cultura é incentivada proibindo livros infantis, creio que logo, dentro em breve, cultura será sinônimo de video-game, literatura de revista de fofoca e tenho medo de perguntar que tipo de futuros profissionais serão lançados no mercado de trabalho.

Quem serão os escritores de 2030? Se é que saberão o que é isso.

Querido Monteiro Lobato, atualizando a sua frase:
Um país se faz com homens, bala perdida, famintos, miseráveis, corruptos e censores. Sim, censores que provavelmente pertencem à classe de analfabetos funcionais, pois se não entendem uma doce obra infantil, jamais entenderão o conceito de Educar para aprender.

Dou por encerrado meu protesto, possivelmente gritando:
NÃO CENSUREM A POUCA CULTURA QUE AINDA RESTA.

Presenteiem seus filhos com Monteiro Lobato como um dia minha mãe o fez!