
Enquanto isso no mundo de OZ...
"Milhões de pessoas que sonham com a imortalidade não sabem o que fazer numa tarde chuvosa de domingo". Pensava nesta frase e sorria, enquanto descobria os detalhes de uma árvore completamente cabeluda de tantos fiapos soltos. Embora não estivesse chovendo, era um típico dia como este, por volta das 13h.
- Olha isso aqui! Exclamou, tirando-me dos devaneios poéticos, querendo mostrar uma banheira do século XIX no alto de uma mini torre.
Estávamos em um museu ao ar livre. Ela fotografava, de frente, de lado, de costas e até de cabeça para baixo se assim o ângulo fosse favorável à sua arte.
Voltando ao meu mundo de pequeno príncipe, já fui logo dizendo: "se fosse um escravo dessa Baronesa...” Antes de terminar meu raciocínio me interrompeu:
"Eu seria a Lady!"
Uma Lady bem às avessas eu diria, que minutos depois, estaria sentada no chão, batendo papo com um casal de hippies. Esta é a Lívia.
Com a mesma classe e educação que freqüenta festas chiques, também pede isqueiro emprestado na porta do pronto socorro a uma noiva, às 5 da manhã.
Loas e bajulações são desnecessárias neste contexto. Tampouco obra feita, facilmente decifrável, pois tudo é muito forte. Ela se joga.
"Eu me jogo fora". (Sim, ela é atrevida e me contraria até no texto)
Fora? Só se for fora dos caminhos onde os outros conheçam. Conectada pela intensidade, move-se livremente para onde quiser, a fim de respirar profundamente e sentir as doses de loucura. Ela não precisa de contexto, é um texto livre, aberta a mudar a qualquer instante, em que achar que deva, esteja a fim e que faça sentido para si. Perfeito rascunho de pássaro.
Bem ao longe, o homem de lata escuta minha explicação. O amigo galvanizado se encantou com as pequenas porções deste que fora descrito, muito embora a própria dona não perceba o quão sortuda é, por ter um coração tão bom. Ele realmente adoraria a experiência de tê-lo.
O espantalho curioso, pensou que algo em minha descrição também poderia lhe ser útil. Ficou quietinho ao lado do seu amigo e pôs-se a ouvir.
Segurança para Lívia, é a busca pelo incerto.
Assim ela se sente viva!
Embora o que ela chame de loucura, eu entenda por coragem,
O que muitos entendem por dificuldade, Lívia lê como desafio.
Sua mente não sinaliza distância e seus meridianos são inquietos.
Deve ser por isso seu cheiro de rosa dos ventos, com pontos cardeais que levam a qualquer lugar ou parte alguma.
Pela sofisticada capacidade de assimilação, há quem diga que é nova.
Nova? Lívia é milenar...
Possui rugas e cicatrizes internas que o paradoxo da sua idade não revela,
A não ser pelo paladar completamente infantil e divertido.
Com demasiadas curiosidades, sua cultura é livre de pudores. Geralmente em dúvida ou abstendo-se de opiniões enfáticas, o que ela nomearia de indecisão, eu chamaria de inteligência, pois há sempre de analisar mais de um ponto de vista.
O espantalho, extasiado com os fragmentos, interrompeu-me perguntando de que forma ele poderia ter um cérebro como esse. Sorri, porque apenas descrevera o que Lívia tem de sobra.
O leão medroso levantara as orelhas, pois algo parecia que ali encontraria algum exemplo de coragem. Sim, coragem é o multiplicador de Lívia em suas façanhas.
Não se arrepende de nada, mas isso não quer dizer que se orgulhe de tudo. É uma pessoa equilibrada.
Com plena consciência de sua intensidade, ela sabe que paga-se um preço por isso, que às vezes é bom às vezes é ruim. Mas tudo faz parte das páginas de histórias que há de se contar, ainda bem, não são felizes todos os dias.
Adepta da linguagem das bocas mudas, não tem necessidade de chamar atenção. O que ofusca mesmo em si é a luz mágica de seus avessos. Esses que não são visíveis, palpáveis, não possuem posição social e sequer tem coisas sobrando.
Dando vazão às inquietudes, seu destino não é acalmar temporais, mas estar no meio deles, de preferência, ouvindo música clássica, sentindo o vento ceder aos arroubos do clima.
Sua linha não existe certo, pois sinaliza o não dito, também o não vivido, o impreciso e o que ainda não conhece.
“Eu quero, eu quero!” Diziam homem de lata, espantalho e leão ao me pressionarem por encontrar tudo o que o conto de fadas havia tirado deles. Lívia tinha bom coração, cérebro e ainda por cima, coragem.
- EU QUERO (Acorda), em que planeta tu estás?
- Hã? Respondi voltando do meu transe...
- Eu quero mais uma cerveja.
Lá estava Lívia, à minha frente sentada em uma mesa de bar, consumindo, cerveja, cigarros e blues. Eu sorri, balancei a cabeça e pedi mais uma.
Acho que jamais conseguirei juntar essas peças e sinceramente? Nem quero.
Sempre amei os mosaicos, pois são feitos de alma.