sexta-feira, 16 de julho de 2010

Entrevista com um gato

Em meio aos meus devaneios, eis que no meu divã eu entrevisto um gato.
Sim, ele está atrasado! Mas sei que aparecerá somente na hora em que estiver vontade. E pacientemente eu aguardo...
Horas se passam, quando ao longe avisto aquele toque refinado de ser,
o inconfundível jeito de andar, delicadeza e elegância em forma de movimentos,
me diz que ele está chegando para ser a estrela da noite.

Minha pergunta é óbvia:
- Por que os gatos são tão discriminados?

E ele, com aquele olhar encantador, quase que displicente, começa seu discurso:
"Pertenço à minoria no mundo dos animais.
Sim sou independente! Gosto da individualidade, o que não me faz egoísta,
afinal, também sou companheiro e carinhoso.
Mas tenho meu tempo, minhas vontades e respeito isso!
Entenda como quiser Fernanda, mas chamo de autenticidade, não de indiferença.
Qualquer um pode ter meu amor, eu não sou inacessível.Mas por favor não me compare, não sou todos os bichos, sou único e gosto de ser diferente.
Me chamam de traiçoeiro, me pergunto se é por não balançar a minha cauda para qualquer um. Sinceramente? Acho a prática desnecessária, porque sou legal apenas com quem gosto, caso contrário, sou indiferente. Não sei ser forçado para agradar.
Meu instinto é ser amável, esta é minha natureza.
Se fosse humano, acho que seria cult!
Aprecio a energia do silêncio, sou seleto nas relações, escolho meus amores e descarto tudo que se faz desnecessário na minha vida.
Me julgam porque sei andar sem derrubar, brincar sem destruir e comer sem me fartar.
Não sou arrogante, mas por favor, não tenho dono! Que rótulo primitivo!
Quem inventou isso?
Coisa de humano...Ah, bobos.
Sou meu! Mas experimento a troca, eu também adoro dar amor.
Entenda meu jeito, respeite meus silêncios e aí sim, se apaixone.
Sinto que este excesso de carência e dependência das pessoas me faz acreditar
que na verdade SOMOS NÓS, OS ANIMAIS, QUE TEMOS SERES HUMANOS DE ESTIMAÇÃO!"

Ele calmamente levantou-se do divã, deu duas ou três lambidas na pata direita,
e saiu com a leveza de um lord, pronto para o seu sono de beleza.

E eu, estupefata e boquiaberta, não prinunciei uma palavra sequer.
Minha cabeça fervilhando só conseguia imaginar: E se gato fosse gente e se gente fosse gato?
Agora percebo, ele tem toda razão...
Se eu fosse gato, não me veria com a necessidade de balançar o rabinho só porque um humano pretensioso acabara de chegar.

Me curvo e tiro meu chapéu.
Gato é inteligente!

5 comentários:

Camila disse...

Definitivamente eu sou uma fã!
Tava sentindo falta dos teus textos gata.
Adoreiiiii

Anônimo disse...

Que talento para escrever hein??
Aplausos e suspiros para Fernanda Stracioni.

lesbicafeminista disse...

muito bem escrito, fê.
amei, amei, amei!!!
ainda mais agora com a foto das minhas filhotass :} heheh
também me curvo e tiro o chapéu para essas criaturas inteligentíssimas e, ainda, elegantíssimas!

Fer disse...

*.*

Aquela que vive entre a carne, os ossos e os sonhos possíveis. disse...

será que na medina em que nós humanizamos os animais com roupas, nomes, perfumes, característica humanas não estamos na mesma proporção nos animalizando? Isso ratificaria a tua proposição de que somos humanos de estimação, rsrsr