domingo, 25 de julho de 2010

Uma artista e um saquinho de biscoitos

Aqueles olhos verdes brilhavam como nunca. Era década de 40.
Como quem dialogava com o espelho, suspirava pensado no que
estaria prestes a fazer. Iria casar! Sim, casamento!

Mas como assim, casar? ela era uma artista.
Se bem que, ser artista em uma época como aquela não era fácil.
Tempo em que lança-perfume era brincadeira de carnaval,
artista era marginal. "Tempos estranhos aqueles."

O glamour dos palcos enchia sua vida de alegria.
Sempre à frente do seu tempo, embora boa filha,
daquelas acostumadas com as lidas domésticas,
aproveitara as horas livres para dedicar-se à arte.

Mulher casa cedo, cuida da casa e dos filhos!
Ela não concordava, não dava bola para a sociedade
e seus esteriótipos, "gente de com mania de
crenças prévias".

Se um dia casar, que seja por amor... e assim o tempo
passou e no auge dos seus 24 anos encontrara.
Ele, balconista de lavanderia, fugia completamente dos
padrões que a tradicional família italiana considerava como
certo, ganhou aquele coração outrora dominado pela arte.

Nada em sua vida foi comum, ela é pura e simplesmente
intensidade. Com a família contra, assim mesmo ela casara!
Isso é vida! "Se for pra ser, que seja por amor!".

A história de amor durou até os seus 31 anos quando
ficaria viúva e agora, mãe de 4 filhos. "É hora da Luta"
Batalha, cria, luta, sonha, faz, batalha de novo...
a vida foi passando, o seu rosto enrugando,
mas os olhos verdes estavam lá...
Lindos, intactos e cheios de histórias para contar.

Essência de artista, alma do bem, "se puder ajudar ajude"
se não puder "faça algo mesmo assim".

Vieram os netos, e isto ela não ensina, ela mostra em atitudes,
porque "bondade e pureza aprende quem quer".

Hoje aos 76 anos, vejo-a do outro lado da mesa,
toda família em volta. Linda, esplêndida e os mesmos
olhos verdes doces da fotografia, como quem conta
com pureza a mágica de suas estórias.
Eu sei que isto é completamente subjetivo,
imponderável, que aquela jovem que se olhara no espelho,
tornara-se hoje quem é.
A vida não foi fácil, ainda hoje não é simples,
mas "que seja sempre amor, bondade e pureza"
Se um dia eu morrer, morro amando.

Olhei-me imediatamente no espelho.
Minha Avó é a base de tudo que sou
e a essência de tudo o que quero ser!



***Por que do saquinho de biscoitos?
No último dia dos avós, eu tive a idéia de mandar uma cesta de café da manhã,
como se esquecesse de quem era a Dona Leda, ela recebera a cesta e, tirando todos
os itens, guardou para si um saquinho de biscoitos e o restante distribuira um a um para sua família. Devo ter até hoje um mini potinho de doce de leite guardado pela emoção que me
causara a sua atitude.***




DIA 26 DE JULHO, DIA DOS AVÓS

2 comentários:

Layla disse...

Lembrei-me nesta cronica de minha avó, aquela criatura tão doce comigo e tão rude que outrora fora com minha mãe. Saudades dela me deu, no auge dos seus 74 anos a sua força para viver me faz querer mais de mim mesma. Obrigada por me fazer recordar, me emocionar de tal maneira que poucos conseguiram ate hoje! Tu é uma pessoa de sentimentos unicos, que me da o prazer e a alegria em ter por 'perto' e poder contar contigo em meu circulo de amizades. Obrigada!

Anônimo disse...

Oi Fernanda...tu fizeste eu retroceder anos atrás,vendo a foto linda, fiquei emocionada... e lendo a historia que a família acompanhou.Parabéns!

A Leda tão frágil,mas uma grande mulher.Guerreira e põe guerreira nisso... ficou viuvá com quatro filhos,dedicou sua vida pesada,mas soube suportá la.

Mostrou para todos nós,estímulo para luta,força nos momentos difíceis,certeza no presente e esperança no futuro.

Eu, e toda minha família somos grande admiradora da tua avó.Já te falei isso.Beijo para todos !Nara