sexta-feira, 12 de março de 2010

Uma lição de vida por $40

Lidar com o preconceito é sempre uma tarefa árdua, até para aqueles que (como eu) se intitulam "mente aberta". Ontem viria a descobrir, que ninguém é o suficiente, nem mesmo eu.

Sempre que passava pela Praça da Alfândega, aquele hippie estava ali, sentado vendendo seus trabalhos, com o ar sereno e despreocupado de ser. Depois que coloquei os dreads, ele passou a me cumprimentar. Com o tempo, me estendia a mão, e dias depois passaria seu telefone, oferecendo-se para cuidar do meu cabelo.
Eu, como qualquer pessoa comum, tinha certo receio, puro preconceito, afinal a sociedade não é fácil. Ouvi de muitas pessoas próximas coisas do tipo: "te certifica de que ele é decente", ou "tu enlouqueceu" ou coisas piores. No auge dos meus 29 anos, posso dizer que uma das minhas características mais fortes é a teimosia, ou opinião própria, interprete como achar melhor. Sigo o que acredito que devo, na maioria das vezes em silêncio, porque acredito que o que faz barulho é carroça vazia.

O fato é que, eu fui até o hippie e ele me levou para arrumar meu cabelo, em um apartamento no centro. Havia outras duas pessoas lá, também da mesma tribo, onde eu passaria pelo menos 3 horas ouvindo histórias.
Quando eu pensei que podiam falar de pulseirinhas e colares, falavam de mananciais, natureza e cultura indígena.
Quando cogitei que falariam em maconha, falaram em PIB, potencial político, governo e democracia.
E na hora que imaginei que poderiam falar de suas banquinhas na praça, falaram de suas viagens pelo país, de norte a sua, em detalhes, passando de Acre a Tocantis, nordeste a pantanal.
A cada história, o preconceito caía em mim feito máscara de papelão, abrindo espaço ao respeito à uma ideologia, diferente da minha, mas pessoas como eu, com sonhos, desejos e necessidades.

Infelizmente a sociedade não está de portas abertas ao que à primeira vista não é "normal", mas afinal, qual o conceito de normalidade?
Não posso mudar longe o que antes não mudei dentro de mim, e fico feliz em admitir e perceber que não sou comprometida com os meus erros.
Depois de tantas histórias, uma inevitável auto-análise. Eu, com todo meu estudo de universidades, livros e teorias, me senti pequena, perto da inteligência de vida daquele homem.
Sim, preciso olhar para o lado, deixar a tecnologia para depois, e sentir, simplesmente sentir, que a mágica de viver e aprender com as pessoas está justamente aí, nessa enorme e feliz diversidade.
Os $40? foi o melhor investimento da semana. Aprendi coisas que levarei para o resto da vida.
O meu cabelo? não está mil maravilhas, mas vai ficar bom.
O hippie? Deixou-me em casa no seu carro, preocupado com a minha segurança.

Depois disso tudo, me curvo e ao levantar, deixo a emoção falar através do meu aplauso.

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