quarta-feira, 28 de abril de 2010

Cinco Grandes Lições

Ano de 2005. Passava a marca de 620 dias desempregada; 25 anos nas costas, testando a paciência elástica da minha mãe, afinal ainda era sustentada por ela. A situação não era nada confortável, em especial para mim, que tinha um milhão de planos na cabeça, todos eles em “stand by” por não estar podendo colocá-los em prática.
No dia em que a cabeça foi além do que eu podia ver, joguei algumas peças de roupa em duas mochilas e comprei uma passagem para Ribeirão Preto. Sim! Mais de 1500 Km de casa. Eu tinha uma passagem, R$ 120,00 que juntei daqui e dali, e um sonho: ser independente!
Era uma solitária segunda-feira de manhã, saí de casa com uma sensação de imprecisão, como se avançasse os limites do futuro, a brisa daquela manhã me envolvia, como se dissesse "acalme-se que tudo dará certo".
Contra a vontade dos meus pais, somente com o abraço da minha vó amada que me disse: "vá minha filha! se der errado, é só voltar". Se der errado? Puxa! Sabia que eu não havia lembrado de alguma coisa; E SE DER ERRADO? Com que cara voltarei para casa? A minha família com certeza me apontaria, afirmando que eu só trazia gastos (como de fato, só trazia mesmo). Sensação de medo. Isso me agoniava.
Embarquei em um ônibus, os chamados “pinga-pinga”, com previsão média de 22 horas de viagem. Ele percorreria todo norte do estado, passando pelos interiores de SC, região central de SP, até chegar ao meu destino: Ribeirão Preto.
Acomodei-me no último assento do ônibus e coloquei um boné. Guardei meus sanduíches de mortadela no bagageiro acima da minha cabeça e fui. Sabe-se lá o que o futuro haveria de me aguardar. A cada parada daquele ônibus mais incertezas percorriam minha mente. Como é ruim a sensação de medo, principalmente por não saber o chão em que pisaria. Eu tremia, como criança perdida em parque de diversões.
Num desses interiores de cidade pequena entrou uma moça, com um remo na mão, sentou em um banco próximo de onde eu estava. Ela era magrinha, porém malhada, semblante saudável. Usava uma blusa dessas de patrocinadores. Hum... acho que ela irá competir, pensava eu como quem não acha nada mais útil para pensar. Eu fitava a menina de cima a baixo, por um breve instante havia virado fã. Puxa! Ela está percorrendo os estados pra competir, que legal! Tão jovem e já batalhando pelo seu futuro! Que show, que coragem, que máximo!
Minha admiração durara cerca de 45 minutos, quando a menina vomitou pela primeira vez. E assim ela foi, de tempos em tempos, revezando entre o banheiro do ônibus e suas reclamações soltas no ar, na solidão do seu banco do ônibus.
Uma forte massa de auto-confiança bateu sobre mim naquele momento, afinal, também estava indo competir. Sim, eu estava! Lutar por uma vida que ainda não sabia muito bem qual seria, eu já era vencedora por ter tido a coragem de sair de casa. E mais um ponto ao meu favor: era capaz de viajar longas distâncias sem enjoar! Eu sorri. MINHA PRIMEIRA GRANDE LIÇÃO: Sair de casa é questão de tempo e inevitável em algum ponto de nossa vida!

Levei a tiracolo o livro do Pequeno Príncipe, minha maior inspiração. Cada parágrafo que lia, me comparava ao menino que saía sem rumo, pendurado na cauda do cometa, tirando lindas lições por onde passava. Será que vou conseguir?
Chorei muito nessa viagem, prometendo a mim mesma ser forte, afinal, queria provar que era capaz. Era mais que um sonho, uma obstinação! Uma transição tardia, muito embora necessária em minha vida. Mas quem disse que as pessoas estão sempre preparadas para as mudanças?
Estava quase na primeira metade da longa viagem quando peguei um dos meus sanduíches de mortadela e uma água daquelas de copinho que a empresa de ônibus oferece e lanchei. Por estar sentada no último banco, percebi que as pessoas me olhavam. Com o ônibus fechado, tarde da noite, o cheirinho do sanduíche de mortadela perfumava o ônibus tão cheio de gente sem paciência, onde a maior distração era chegar até próxima parada para comer e ir ao banheiro. Sei bem que causei fome naquela gente, tanto, que logo depois o aroma do ônibus misturava-se entre bolacha recheada e salgadinhos de queijo.
Ótimo! Mais uma vez meu peito estufou de auto confiança; Afinal, alguma coisa eu poderia causar às pessoas em volta, nem que fosse fome. E se conseguia isso, porque não cativar alguém para conseguir um emprego? MINHA SEGUNDA GRANDE LIÇÃO... Seria capaz de fazer o que eu quisesse na minha vida, dependeria somente de mim, pois sou resultado de minhas próprias escolhas!

O emprego... Cada vez que pensava nisso lembrava de minha mãe, de tudo o que ela fizera a vida inteira por mim, de sua desconfiança que quando disse que iria embora. Mulher que sempre me deu o maior exemplo de vida, de caráter, ela achava que eu não conseguiria. Cá entre nós, com toda razão. Pois, até então ela tinha uma filha folgada e despreocupada com a vida. Lembrava do olhar brilhante dela, com certeza magoada comigo, fazia meses que não a via, pois ela morava em Brasília na época. Também lembrava do tristonho olhar verde da minha vó, sempre tão consolador, escondido por detrás daqueles óculos.
Peguei no sono em meio aos meus pensamentos e quando acordei, muitos dos passageiros haviam descido, restando somente umas quinze pessoas para seguir viagem até Ribeirão Preto. Foi estranho, ver que o ônibus ficou vazio e em silêncio e eu nem ter percebido. Muitos pararam pelo caminho, outros seguiram destinos diferentes, acabei constatando que a vida é assim mesmo. Menos ainda, são as pessoas que realmente chegam ao destino final o qual se propuseram. MINHA TERCEIRA GRANDE LIÇÃO: o caminho é longo, muitas pessoas vão entrar e sair da minha vida. Ficará somente o que a gente fez de bom para elas, afinal, a gente atrai o que transmite!

Faltavam algumas horas para o final do trajeto (que duraria o total de 26 horas), quando virei uma garrafinha inteira de água no colo, com meu jeans era cinza claro, óbvio que parecia que havia feito xixi nas calças. Aquelas horas foram as mais longas da viagem, pois eu não ousei levantar dali para que não ficassem me cuidando. Fiquei encolhida, quando abri ao acaso o livro do Pequeno Príncipe, justamente naquela frase que diz assim: “Seu eu tivesse cinqüenta e três minutos para gastar, iria caminhando passo a passo, mãos no bolso, na direção de uma fonte..." MINHA QUARTA GRANDE LIÇÃO: o que as pessoas vão pensar das minhas atitudes não deve ser maior, nem empecilho para continuar minha jornada!

Enfim, eu cheguei! Quatro dias depois consegui um trabalho. E outros dias mais tarde viria a conseguir o emprego que realmente queria. Cada vez que me lembro do perrengue que passei, penso no olhar da minha mãe que pra me fazer forte sempre me deu bons exemplos e que a certeza de que não adianta sonhar sem realizar, senão a vida fica vazia. MINHA QUINTA GRANDE LIÇÃO: Por mais que eu saiba de tudo isso, eu aprenda a cada dia, com cada detalhe, parece que eu me sinto crua, como se tivesse tudo ainda por aprender. Será que um dia estarei satisfeita ou a gente é para o que nasce?
(Conto escrito em 2007)

4 comentários:

Unknown disse...

Para conquistar algo na vida,não basta ter talento, não basta ter força,é preciso viver um grande amor.(Mozart)
Tudo isso vc têm e viveu.
Mas, é preciso ter coragem!!!
E coragem, é o que não falta em
VC...
Bjão

Fer disse...

Vivi???
Não, acho que ainda tenho pra viver! Grande amor é algo muito subjetivo pra mim. Pq todo e qualquer sentimento bom, em mim é grnade e é amor!

Liii disse...

Fer..como diz minha mãe: "Hj a fer esta pronta para começar realmente a vida dla... e td oq ela enfrentar irá em frente... sem vascilar! Pq provou a si mesma q eh capaz"!
Mexe!!!hahaha
Tah c mais moral que eu c minha mamis...ahahhaha

Fer disse...

Cara... eu não sei pq as mães de amigas gostam de mim!!! heheheheh
Deve ser essa minha "cara" de séria...rs